Não Somos Todos Iguais - Os Direitos Humanos são uma ordem imaginada [por Yuval Noah Harari]

OS DIREITOS HUMANOS SÃO UMA ORDEM IMAGINADA

É fácil para nós aceitar que a divisão das pessoas em “classe superior” e “plebeus” é pura imaginação. No entanto, a ideia de que todos os seres humanos são iguais também é um mito. Em que sentido é que todos os seres humanos são iguais uns aos outros? Existe alguma realidade objetiva, fora da imaginação humana, em que sejamos verdadeiramente iguais?

De acordo com a ciência da biologia, as pessoas não foram “criadas”. Evoluíram. E decerto não evoluíram para serem “iguais”. A ideia de igualdade está inextricavelmente entrelaçada com a de criação. Fomos buscar a ideia de igualdade ao Cristianismo, que defende que todas as pessoas possuem uma alma de criação divina e que todas essas almas são iguais perante Deus. No entanto, se não acreditarmos nos mitos cristãos sobre Deus, a criação e as almas, o que significa todas as pessoas serem “iguais”? A evolução tem por base a diferença, não a igualdade.

Todas as pessoas possuem um código genético ligeiramente diferente e estão expostas, desde o nascimento, a diferentes influências ambientais. Isto conduz ao desenvolvimento de qualidades diferentes, que implicam diferentes oportunidades de sobrevivência.

Os defensores da igualdade e dos direitos humanos talvez se sintam ultrajados por este tipo de raciocínio. O mais provável é que a sua resposta seja: “Nós sabemos que as pessoas não são biologicamente iguais! Contudo, se acreditarmos que somos todos iguais em essência, isso permitir-nos-á criar uma sociedade estável e próspera.” Não discuto isso. É precisamente o que quero dizer com “ordem imaginada”. Acreditamos numa ordem em particular não porque esta seja objetivamente verdadeira, mas porque acreditar nela permite-nos cooperar com eficácia e forjar uma sociedade melhor.

As ordens imaginadas não são conspirações malévolas ou miragens inúteis. Pelo contrário, são a única forma de um grande número de seres humanos poderem cooperar eficazmente.

[Excerto retirado da obra "Sapiens" de Yuval Noah Harari]