O Problema da Comunicação - os Negacionistas Emocionais

Há pessoas com quem simplesmente é impossível comunicar. Eu, que fui ensinada a acreditar que bastava seguir a lógica e as suas tabelas de verdade para distinguir os argumentos falsos dos verdadeiros, sou obrigada a admitir que na realidade as coisas não são assim tão fáceis.

A comunicação entre os seres humanos não cessa de me fascinar. Este mistério das palavras que tentam transmitir ideias e que constroem narrativas, não cabe em tabelas de verdade e está longe de atingir consensos.

Por mais elaborados que sejam os argumentos, por mais verdadeiros que estejamos a ser, o outro pode sempre negar-se a compreender. De nada adianta tentar explicar melhor, reformular as frases, evocar exemplos ou apelar ao bom senso - quando alguém está cegamente determinado a contrariar o óbvio, não há como demonstrar que está a incorrer numa falácia.

É este o problema da linguagem, a facilidade com que pode ser desmontada, adulterada, mal interpretada e incompreendida. Basta alguém querer que o que dizemos não seja percebido para a linguagem deixar de ser o meio primordial de comunicação e passar a assumir-se como um fosso entre realidades.

É tão estranho ao ponto de acontecer com pessoas que nasceram na mesma cidade, frequentaram as mesmas escolas, partilharam experiências e, na maior parte do tempo, conseguem manter uma comunicação saudável. De repente, sem ninguém estar à espera, cria-se uma ruptura no entendimento e as palavras deixam de funcionar.

A comunicação torna-se impossível, os argumentos perdem a utilidade, por mais válidos que sejam, quando são confrontados com a intransigência de alguém que não os quer aceitar.

As razões para que isso aconteça podem ser tão variadas que seria uma perda de tempo enumerá-las - quando um ser humano não quer ver pode facilmente tornar-se cego.

A experiência destas situações faz-me repensar os limites da linguagem e questionar até onde é que a troca de palavras pode ser considerada comunicação. Até onde é que as inquestionáveis provas que a Terra é redonda podem ser negadas? E até onde é que conseguimos lutar contra a negação de alguém?

Esta semana assisti a um episódio destes, uma incompreensão total de argumentos válidos por parte de um ser humano igualmente válido, mas que abdicou da racionalidade em prol da defesa de uma ideia cheia de inconsistências e apoiada em argumentos falaciosos.

Onde é que se traça o limite da compreensão entre duas mentes? E como é que se inverte esta marcha?

Teresa Rolla